Silas Roberto Nogueira
Comunidade Batista da Graça, Suzano/SP
Exposição da Epístola de Tiago
Anotações do Sermão
Tiago 1:2-4

O primeiro ponto
que quero destacar é que precisamos enfrentar as provações com alegria. No dicionário, provação e tribulação sempre vem antes de triunfo,
mas não antes da alegria. As
provações são circunstâncias que nos sobrevém em que nossa fé é testada. A
ordem de Tiago aqui não é somente que nos alegremos por causa das provações,
mas que experimentemos uma plenitude de alegria (“toda alegria”). Essa mensagem
pode ser encontrada em todo o Novo Testamento. Cristo ensinou isso (Mt
5:11,12), essa foi a experiência dos primeiros crentes (At 13:48-52 ) e o
ensino dos apóstolos, Paulo ( 2 Co 7:4), Pedro (1 Pe 4:13), autor de Hebreus (Hb
10:34). A questão que devemos levantar então é: qual a natureza dessa alegria? Tiago
não explica. Simplesmente ordena: alegre-se. Mas nós não estamos no escuro. O
próprio contexto e outras partes da Bíblia explicam a natureza dessa alegria.
Essa
alegria não tem sua fonte nas circunstâncias, mas é independente delas.
Tiago deixa
evidente que a alegria aqui não tem uma relação direta com aquilo que estamos
experimentando ou sentindo. A alegria ordenada aqui é possível mesmo em meio às
circunstâncias adversas, mesmo em meio às provações. Portanto, a alegria aqui é
independente das circunstâncias. O cristão não depende das circunstâncias para
experimentar a alegria. John Blanchard “a verdadeira alegria resplandece no
escuro.”
Essa
alegria não é insensibilidade à dor. Tiago não diz não sinta dor, não chore, mas
alegre-se. Essa alegria não nos torna insensíveis ou imunes à dor. Tiago, por
exemplo, cita Jó como modelo de alguém que sofreu com paciência (5:11). Ora,
nós sabemos que Jó chorou e esteve de luto por tudo que passara (Jó 30:25-31).
Tiago também cita os profetas como modelo de sofrimento, e sabemos que entre os
que mais sofreram estava Jeremias, cujos lamentos estão registrados em seus
livros (Jr 15:10). Essa alegria coexiste com a dor e o sofrimento, não nos
torna insensíveis ou imunes a eles.
Essa
alegria não é natural, mas sobrenatural. Tiago não diz que devemos produzir alegria. Tiago
apenas ordena que nos alegremos. Como um dom perfeito, essa alegria tem como origem
o nosso Deus, Tg 1:17. De acordo com Paulo é Deus quem nos enche dessa alegria,
Rm 15:13. Aos crentes gálatas Paulo fala dessa alegria como fruto do Espírito
santo, Gl 5:22. Assim sendo, essa alegria é divina, não humana, não é natural,
mas sobrenatural. O puritano Thomas Watson dizia “há tanta diferença entre as
alegrias espirituais e as terrenas quanto entre um banquete saboreado e outro
pintado na parede”.
O segundo ponto
que devo destacar é o porquê devemos nos alegrar. De acordo com Tiago “muitas”
são as provações pelas quais os crentes passam. Talvez a afirmação de Tiago
aqui seja um eco do salmista que havia afirmado “muitas são as aflições do
justo” (Sl 34:19). Duas coisas devem ser observadas de imediato:
(a) As
provações são inevitáveis. A palavra “passardes” tem o sentido de ser
tomado de assalto e isso indica que as provações sobrevinham a eles de modo
repentino, sem que pudessem evitar. Cristo declarou “no mundo tereis
tribulações” (Jo 16:33). Paulo afirmou que todos os que querem viver
piedosamente padecerão perseguições (2 Tm 3:12). C. S. Lewis afirmou “o
verdadeiro problema não está na razão por que algumas pessoas piedosas,
humildes e crentes sofrem, mas por que algumas não sofrem”. A igreja em Sardes
não enfrentava perseguições, vivia tranquilamente em amizade com o mundo, mas
estava morta;
(b) Só existe uma maneira de enfrentar as provações: embora sejam
muitas as provações, só existe uma maneira de enfrenta-las e é com alegria. Os
crentes não estão imunes ao sofrimento.
Alguns dos leitores originais de Tiago estavam enfrentando a viuvez e
pela orfandade (1:27), alguns foram processados pelos ricos opressores (2:6),
outros sofriam opressão social (5:1-4) e ainda outros enfrentavam doenças
(5:14). Contudo, Tiago não lhes ensina fugir das provações, mas a enfrenta-las
com uma mentalidade alegre. E porque devemos ter tal atitude em relação às
provas da vida?
É
uma ordem:
Mt 5.12; Fp 2.18;4.4; 1 Ts 5.16;1 Pe 4.13. Não nos cabe negociar ou discutir,
apenas obedecer. Só há duas maneiras de enfrentar as provações na Bíblia. O
primeiro é desobedientemente, isto é, sem alegria e tão somente com a dor; o
segundo modo é alegremente, apesar da dor.
Por
que a alegria é nossa força.
Não há maneira melhor de enfrentar as provações do que com alegria. A razão
disso é simples: a alegria do Senhor é nossa força, Ne 8.10. Força para
superarmos as provações e sermos finalmente aprovados. John MacAr
Por
que glorifica a Deus. O
mundo não conhece essa alegria, mas pode conhecer através de nós. Há incrédulos
que enfrentam os revezes da vida com firmeza inabalável, contudo sem alegria. Mas
ao cristão é possível a alegria mesmo em meio às dores e isso o mundo não
conhece. Ao enfrentar as provações com alegria, o cristão glorifica a Deus. Por
isso Narthcote Deck afirmou: “Um cristão sem alegria é um difamador de seu
Senhor”
O terceiro e
último ponto que devo destacar aqui é como obter a alegria que triunfa da
provação. Estamos
cientes de que devemos enfrentar as provações com alegria. É uma ordem divina,
será bom para nós mesmos, será um bom testemunho e finalmente glorificará a
Deus. Mas a questão que se levanta: como podemos obter a alegria triunfante?
Achegue-se
a Deus, pois ele é manancial de alegria: A primeira coisa que devemos saber é que essa
alegria é fruto do nosso relacionamento com Deus, 1 Cr 16:27 (“formosura” lit.
é alegria); Sl 16:11.
Considere
a situação sob outra perspectiva: atente
para as palavras “tende por motivo”, notou que em algumas versões é
“considerai”? (AS21; NVI) O que é considerar?
Dar atenção a, levar em conta, observar atentamente, meditar em, pesar,
examinar, apreciar. A palavra no original tem a crença que não descansa sobre
os sentimentos, mas na devida consideração dos fatos e que contrasta e pesa as
circunstâncias. Em outras palavras, não se deixe levar pelas emoções, mas
pondere bem e observe que a situação presente pode revelar-se uma ação
providencial de Deus que redundará em benefícios espirituais a você e a outros.
Considere
que as provações são sempre passageiras: Tiago assevera “tende por motivo de toda alegria o
passardes...”. As provações na vida do crente podem ser muitas, mas são sempre
passageiras. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer, Sl
30:5. Alguns passam pelas lutas de modo rápido, outros mais devagar e ainda
outros lentamente, mas todos passam! Pedro ao se referir às provações diz que
elas são “por breve tempo” (1 Pe 1:6) e Paulo fala delas “leve e momentânea”
provação (2 Co 4:17). O cristão passa pelo deserto, não mora nele. A dor
circunstancial não pode fazer com que você perca a alegria que é eterna!
Considere
as provações pedagógicas: há
um aspecto e esse é absolutamente importante em nossas considerações. Não podemos
experimentar alegria se não o compreendermos corretamente. O aspecto sumamente
importante em nossa consideração das provações é que elas têm um foco
pedagógico, querem nos ensinar, aperfeiçoar e não destruir. A frase “muitas
provações” fala não somente de quão variadas são as provações, mas que
certamente há uma para cada momento e para cada área em nossa vida que precisa
ser aperfeiçoada. Tiago nos diz que as provações visam produzir em nós a
“perseverança”. A perseverança é uma das virtudes mais necessárias aos crentes.
Os que perseveram em meio às lutas da vida provam que não tem uma fé
momentânea. A perseverança é um sinal de uma fé íntegra, não deficiente. As
provações não são prisões, mas túneis pelos quais caminhamos rumo à liberdade
em Cristo.
Para
concluir entendo que cabem bem aqui as palavras de William Shakespeare: “eu
aprendi que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e
crescimento ocorre quando você está escalando-a”.
Tiago
nos ensina que as tribulações da vida devem ser encaradas com alegria. Esse é o
método de Deus de transformar tribulações em triunfo.
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